A técnica vocal é praticada há séculos. Em todas as grandes épocas da história do mundo, existiu o teatro e, certamente com ele, um cultivo do idioma referente. Dos gregos sabemos que a reclamação predominava sobre o canto. Na era Cristã, foi fundada pelo Papa Silvestre, em Roma, no século IV, a primeira escola de canto para formação de canto religioso.
Até o século XVI, o maior desenvolvimento da música era legado á igreja. Predominava o canto litúrgico. Nos séculos XII, XIII e XIV trovadores e mestres cantores executavam uma música profana, cujas melodias se espalharam, até que se incorporaram á igreja, apesar da luta em não aceitá-las.
No fim do século XVI, estava tudo preparado para receber uma nova forma musical: a ópera. Com ela desenvolveram-se as escolas de canto, pois trouxeram consigo a necessidade de cantores co grandes possibilidades vocais. Desde este século até nossos dias, várias escolas têm-se especializado o assunto.
Lili Lehman numa frase do seu livro , reuniu a essência destas escolas dizendo: "Tomemos dos italianos a ligação perfeita, dos franceses e ressonância nasal e dos alemães a consciência e a dicção exata das palavras, e teremos a combinação certa para a emissão perfeita da voz.
Parte Teórica
"A fala especificamente humana é função do organismo, não é senão expressão de ideias e sentimentos, através de um instrumento musical."
"O homem carrega dentro de si seu instrumento: é ele Instrumento e instrumentista."
Para falar ou cantar bem, com boa voz, é preciso antes de mais nada, que o instrumento esteja em condições ideais de uso: afinado, aquecido, bem preparado.
Partes Integrantes do aparelho vocal e suas funções
A – aparelho respiratório
A respiração (coluna de ar) tem a função de emissor da voz falada ou cantada tal como pulmonar, acionado, por uma serie de elementos e fatores a que Pedro Bloch, grande foniatra, chama de produto ou ativador.
O estudo da respiração é pois, a base da técnica vocal.
A função principal da respiração é proporcionar oxigênio ás células corporais e extrair o excesso de bióxido de carbono das mesmas. Este aparelho abre-se ao exterior pela boca e narinas. Continua com a faringe, traqueia que se ramifica em dois brônquios, os quais por sua vez voltam a desdobrar-se em inumeráveis ramificações, os bronquíolos, até terminar nos Lobos Pulmonares, penetrando em seus lóbulos, para desembarcar nos vesículos com seus alvéolos.
Nesta, é onde se verifica a troca de gases (hematoses) que coincidem com a do sangue venoso em arterial. Em resumo, o aparelho respiratório é integrado pelo nariz, traqueia, e penetra nos pulmões. Na respiração, ao incharem-se os pulmões, as costelas se separam e a caixa toráxica se dilata. A elasticidade da caixa toráxica é assegurada pelos músculos intercostais, pelas cartilagens, que servem para unir as costelas e finalmente pelo diafragma, amplo músculo transversal que se separa os órgãos respiratórios dos órgãos digestivos.
A respiração se realiza em dois tempos: a INSPIRAÇAO e a EXPIRAÇÃO. A inspiração normal se faz a partir do princípio de que a natureza não tolera vácuo. Ora, expandindo-se a caixa toráxica e, com ela, os pulmões, a pressão dentro destes fica reduzida, e o ar exterior se precipita nas narinas e garganta abaixo. Temos dois caminhos para expandir a caixa toráxica:
1º O DIAFRAGMA – pode contrair-se para baixo e ir baixando assim, a base desta cavidade (respiração DIAFRAGMÁTICA, também chamada “ABDOMINAL”).
2º AS COSTELAS – podem expandir-se para fora, por força dos músculos intercostais, aumentando assim o seu diâmetro (respiração INTERCOSTAL).
NOTA – A caixa toráxica está formada por dozes pares de costelas, que saem das dozes vértebras dorsais. Os músculos na inspiração são o diafragma, músculos intercostais externos, o escaleno, os esternoscleidomastóides e outros.
Os músculos da expiração – músculos abdominais intercostais internos e diafragma.
NOTA - 1º - Na inspiração se produz o aumento da caixa toráxica; e na expiração, a diminuição.
2º Alguns tecidos dos pulmões e tórax são elásticos, á semelhança de molas. Estes tecidos podem distender-se durante a expiração por uma força externa (esforço muscular). Quando a força externa deixa de funcionar, os tecidos recobram sua posição original. Quanto maior for a força muscular aplicada, maior será o enchimento, e maior o câmbio volumétrico na inspiração.
MECÂNICA DA RESPIRAÇÃO
1 – Abdominal.
2 – Costa inferior – onde predomina a mobilização das costelas inferiores.
3 – Costa superior ou clavicular – com elevação do tórax.
A inspiração deve realizar-se sempre pelo nariz, pois nele o ar se filtra, aquece antes de chegar á garganta.
É indispensável efetuar diariamente exercícios de respiração profunda,porque no canto é necessário respirar sempre profundamente, para se ter um controle absoluto, dos músculos da respiração.
Para cantar não há necessidade de inspirar muito ar e sim saber expeli-lo com economia.
LARINGE E CORDAS VOCAIS
A laringe é um órgão não só da respiração, mas também da fonação. Constitui o primeiro seguimento laringo-tráquio-brônquico. Acha-se situada na parte médiadopescoço, correspondente ao chamado “pomo de adão”, que nada mais é do que o relevo da cartilagem tireoidea e cujo desenvolvimento é mais pronunciado no homem. A laringe, que tem a forma de uma pirâmide, está situada para adiante da coluna vertebral, da qual se encontra separada apenas pela faringe (conduto músculo-membranoso), inferiormente, comunica-se com a traqueia e superiormente, com a faringe. A este nível, relaciona-se com a base da língua, á qual adere. Explica-se deste modo o fechamento da glote, (fenda que separa as duas cordas vocais verdadeiras), pela epiglote durante a deglutição.
A laringe consta de 4 cartilagens principais: EPIGLOTE, TIREÓIDE, as duas ARITENÓIDES e a ORICÓIDE.
Nas duas cartilagens aritenóides, (em forma de pirâmide) estão diretamente as duas cordas vocais verdadeiras. Elas comandam os movimentos das cordas vocais.
Se a glote se abre 194 círculos por segundo, sairão 194 arcos de ar por segundo, criando assim um som de 194 círculos por segundo, ou seja SOL 2.
A laringe fica dividida em três – subglótica, glótica e supraglótica. Na primeira, concentra-se a corrente de ar em direção á glote onde se produz o som primário, enquanto a parte superior começa a dar cor, timbre e qualidade á voz.
Em resumo: a coluna de ar vai ser posta em vibração nas cordas vocais inferiores, (as verdadeiras, com que nós cantamos e falamos) pois sabemos que existem, também, duas cordas vocais superiores ou falsas, e entre as duas, um ventrículo, uma reentrância – o VENTRICÚLO DE MORGAGNI. Chamamos a esta segunda de aparelho vocal de vibrador.
NOTA: O comprimento das cordas vocais é de mais ou menos 1,5 a 2,5 cm.
RESSONADORES
O som produzido pelo vibrador precisa sofrer um tratamento ressonancial, isto é, os ressonadores (boca, faringe, nariz) vão tratar de maneira mais peculiar, os harmônicos e eles fortalecidos, é o que vai dar qualidade a características vocal de cada individuo, correspondendo ao timbre especifico.
ORGÃOS DA ARTICULAÇÃO
Os órgãos da articulação são: “LÁBIOS, DENTES, PALTO DURO, PALATO MOLE, MANDÍBULA, que vão decompor os sons da linguagem”. São órgãos ativos e passivos encarregados da produção de todos os sons para a formação da palavra.
CONCLUSÃO – todo este conjunto orgânico, está dirigido pelo sistema nervoso central, controlado pelo ouvido, e com característica pessoais determinadas pela constituição do indivíduo, idade, sexo, e maior ou menor predominância do sistema endócrino. Qualquer modificação de ordem orgânica ou funcional, terá repercussão sobre o seu funcionamento.
Apenas, estamos simplificando o máximo a explicação.
RESUMO DO APARELHO VOCAL
a)
Produtor ou gerador – é o fole pulmonar, energia que
vai produzir a coluna de ar. É a base do canto.
b)
Vibrador – Basta relembrar que as cordas vocais são
quatro (duas verdadeiras, inferiores e duas falsas, superiores) e que as cordas
vocais inferiores se unem na cartilagem tireoidea (pomo de adão) e realizam
seus movimentos através do deslocamento de sua parte posterior, que vai á
cartilagem aritenóide, de cada lado. Existem várias teorias de vibração das
cordas. A teoria MIOELÁSTICA, (a tradicional), a teoria NEUROCRONÁXICA de
HUSSON (a vibração das cordas vocais provém de influxos nervosos, que partindo
do sistema nervoso centra, através do nervo recorrente, provoca a movimentação
das mesmas), e a teoria MUCO-ONDULATÓRIA de PERELLO.
c)
c) Os ressonadores – (aumento das vibrações aéreas –
sons). Lembremos que quando se explode um B, por exemplo, o véu sobe e
separamos a cavidade nasal da oral; quando pronunciamos um MMMMMMMM o véu
baixa. A boca, faringe, fossas nasais estão em franca atividade.
d)
Os articuladores : Lábios, Dentes, Língua, Palato Duro,
Palato Mole, Mandíbula. Como é fácil notar, não possuímos um “Aparelho Fonador”,
propriamentedito. Todas as partes do mesmo são tomadas de empréstimo aos
aparelhos respiratórios e digestivo.
e)
Articuladores – Dicção e interpretação – Articulação nítida
é o melhor meio de “dosar” o ar. A articulação é a parte mecânica da palavra. A
dicção é a maneira mais ou menos estética de articular, de pronunciar as
palavras. A dicção está a meio caminho entre a articulação, que a serve, e a
interpretação a que serve. Uma boa dicção é sinônimo de boa interpretação. A
interpretação é a meta, a culminância de todo o trabalho vocal.